O estilo da construção do prédio do Museu de Pesca é denominado “eclético”, em razão de seu padrão arquitetural reunir características de vários estilos. Apesar de sua importância histórica, apenas em setembro de 1986 foi iniciado o processo para tombamento do imóvel junto ao CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo. Processo concluído quase treze anos depois, com o tombamento oficial do imóvel pela Resolução SC-40, publicada no Diário Oficial do Estado em 7 de abril de 1998.
A história do local onde hoje está instalado o
Museu de Pesca começa com o antigo Forte Augusto, que cruzava fogo com a
Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (do outro lado do canal de entrada
para o porto e o estuário, na Ilha de Santo Amaro), ambos pertencentes ao
Ministério da Marinha. Tal fortificação, que entrou em atividade a partir de
1734, não passava de uma murada de pedra, armada com algumas peças de
artilharia. O Forte Augusto acabou em ruínas, tendo sido desativado em fins do
século XIX, quando ainda foi aproveitado como depósito de material bélico.
Entretanto, em virtude da posição privilegiada à beira-mar, o local da antiga
fortificação da Ponta da Praia foi apontado como área ideal para a construção
da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Estado de São Paulo. Sob a tutela da
Marinha, um imponente prédio foi erguido nesse local e a inauguração da Escola
deu-se em 5 de maio de 1909, funcionando ininterruptamente até 1931, quando foi
extinta por ordem do Governo Federal.
Museu de Pesca - Escola de Aprendizes Marinheiros – Década de 1910
A edificação que abrigava essa Escola de Aprendizes-Marinheiros foi adquirida pelo Governo de São Paulo e passou então a abrigar a Escola de Pesca (que já funcionava no Guarujá desde 1928) e que, em 1932, passou a se denominar “Instituto de Pesca Marítima”. Esse Instituto foi transferido para o grande prédio em Santos em 1933.
Um Gabinete de História Natural, ligado à então
Escola de Pesca, é que dá início à história do Museu de Pesca. O antigo
Gabinete veio do Guarujá, crescendo lentamente, mas sem uma linha definida de
trabalho. Na época, o acervo se constituía de material reunido
indiscriminadamente, resultante de doações, e alguns trabalhos elaborados por funcionários
da própria Instituição.
No começo, o material existente se distribuía por
apenas uma sala da parte superior do prédio do atual Museu. Já, em 1936,
passava para uma sala da mesma ala, mais ampla, onde se improvisaram estantes.
Em 1939 as estantes foram substituídas por armários mais adequados (na época).
A grande transformação do Gabinete ocorreu em 1942,
com a montagem do esqueleto de um exemplar de baleia que havia encalhado em uma
praia de Peruíbe (litoral Sul do Estado de São Paulo). Para a exposição do
esqueleto, derrubaram-se as paredes divisórias de três salas. Outras
dependências do Gabinete também foram ampliadas, reunindo coleções de conchas,
corais, peixes, aves marinhas etc. Nesse mesmo ano, o Gabinete ganhou
extra-oficialmente a denominação de "Museu de História Natural".
Esqueleto de baleia-fin Balaenoptera physalus
Em 29 de junho de 1948 irrompeu um incêndio no novo edifício do Instituto de Pesca Marítima (onde atualmente está instalado o Centro APTA do Pescado Marinho), não restando outra alternativa senão a transferência dos serviços da Instituição para as salas de exposição do Museu. Tal acidente ocasionou a destruição e perda de várias peças de valor, devido ao amontoamento indiscriminado do acervo para liberação de espaço. Até que a vida do Instituto retomasse a normalidade, houve total desinteresse pela reorganização do Museu, que ficou desativado por algum tempo.
É de se reconhecer que o "Museu" não
poderia permanecer sem um objetivo claro, como também não deveria se constituir
de peças não condizentes com as finalidades do órgão a que estava subordinado.
Havia aves marinhas e terrestres, diferentes animais de pelo, jacarés, lagartos
etc., um começo voltado mais ao ensino no Gabinete de História Natural que lhe
deu origem.
Assim, em 6 de fevereiro de 1950 foi instituído um
legítimo Museu de Pesca com objetivos técnico-culturais e turísticos e
relacionado diretamente com as finalidades do órgão a que estava subordinado.
Em 29 de junho de 1966, Dia do Pescador, pouco
antes de sua aposentadoria no serviço público, o Médico Veterinário Joaquim
Ribeiro de Moraes, Diretor do Instituto de Pesca Marítima (1950-1960),
inaugurou no Museu, em solenidade própria da data, o retrato de Manoel do
Nascimento Júnior, em uma homenagem aos seus trabalhos, desenvolvidos no jornal
"A Tribuna" de Santos, em defesa da pesca, da cidade e do Instituto
de Pesca Marítima. A partir desse dia, o Museu passou a ser denominado
oficiosamente "Museu de Pesca Manoel do Nascimento Júnior". É
importante acrescentar, porém, que se desconhece qualquer documento que
comprove oficialmente tal denominação, sendo isto hoje apenas uma curiosidade
histórica.
Em 1969, o Instituto de Pesca Marítima passou a ser
uma das unidades do recém criado Instituto de Pesca, com unidades em diferentes
cidades do Estado, e a denominar-se Divisão de Pesca Marítima (DPM). A partir
da mesma época foi que o Museu tornou-se uma unidade administrativa dentro do
organograma da DPM, e, em 1972, ganhou dois anexos: um auditório e um
laboratório de taxidermia.
Porém, desde a sua inauguração em 1909 até o começo
da década de 1970 o prédio passou por muitas alterações em seu projeto
original. Por esta razão, o Governo do Estado resolveu realizar uma restauração
do antigo edifício retornando-o à sua condição primeira. Dentre muitas
estruturas refeitas, dois retornos foram marcantes: uma das escadas laterais em
caracol que havia sido retirada e as janelas do andar superior que haviam sido
substituídas por vitrôs. Essa restauração durou quatro anos, de 1974 a 1978,
durante a qual o Museu permaneceu fechado.
E, infelizmente, foi por pouco tempo que o Museu
ficou aberto servindo a seu público, pois já em 1987 ele foi novamente
interditado. Isto porque, um furtivo ataque de cupins fragilizando estruturas
do vigamento do telhado dos sanitários e do prédio principal obrigou o seu
fechamento por oferecer risco à vida. E um problema de telhado, por falta de
continuidade das obras de recuperação, alastrou-se para os pisos e outras
estruturas e o Museu permaneceu longe de seu público, deixando de encantar
gerações, por onze longos anos. Foi reaberto apenas em 1998.
Na área pedagógica, até o final da década de 1980,
o Museu mantinha, por meio de seu "Serviço Educativo", várias
atividades voltadas diretamente a crianças, jovens e professores, utilizando
diferentes recursos para a transmissão de conhecimentos, quais sejam: cursos e
palestras, orientação a pesquisas escolares, estudos do meio (a partir de
observações "in loco" do ambiente marinho e de seus habitantes), museu
itinerante etc. Mantinha também o "Laboratório de Taxidermia e Técnicas
Afins", como unidade destinada à manutenção e expansão do acervo museal, e
onde interessados podiam receber treinamento na área.
O Museu de Pesca é importante como veículo de divulgação
científica na área de pesca e aquicultura e como atração turística,
características essas que assumem maior importância ainda em função do reduzido
número de entidades do gênero existentes no País.
Desde a sua reabertura em 1998, muitos percalços foram
enfrentados pelas diferentes e sempre pequeníssimas equipes do Museu. A equipe
atual busca, via parcerias, retomar essas atividades de educação não formal, e
de estímulo à criatividade e ao respeito à Natureza, essenciais para que a
Instituição cumpra seus objetivos.
Em relação ao Museu de Pesca: seu prédio, suas
reformas e restauros; as filosofias de trabalho assumidas em diferentes
períodos; aqueles que a ele se dedicaram e que vão se aposentando e mesmo se
retirando da vida; os vários ciclos de seu acervo, sempre observados pela
grande ossada de baleia, existem muitos meandros a serem resgatados,
iluminados, trazendo à luz uma belíssima história que precisa ser contada
enquanto ainda sobrevivem alguns registros, sejam documentais, sejam na memória
de quem participou da vida da Instituição, por dias ou décadas.
Ainda que escondido neste site, discreto e
silencioso, fica aqui um desafio a algum leitor com veia de historiador:
resgate e ilumine a história do Museu de Pesca.
* Para mais detalhes deve-se também buscar a
leitura do pequeno grande livro do jornalista e historiador J. Muniz Jr. “De
Escola de Aprendizes a Museu de Pesca”, de onde foi retirada a maioria das
informações que constituem este texto.
Agora, convidamos você a explorar visualmente o rico passado do Museu de Pesca através deste vídeo, que apresenta momentos marcantes de sua história e sua evolução ao longo dos anos. Assista e conheça de perto as transformações que fizeram do museu o que ele é hoje.
Agora, convidamos você a explorar visualmente o rico passado do Museu de Pesca através deste vídeo, que apresenta momentos marcantes de sua história e sua evolução ao longo dos anos. Assista e conheça de perto as transformações que fizeram do museu o que ele é hoje.
O Museu de pesca de Santos, faz parte da minha vida e acredito eu de grande parte dos santistas. Depois de muitos anos estive hoje em visita ao museu e fiquei agradavelmente surpreso com a organização e conservação do acervo e da edificação. A ossada da baleia realmente impressiona. Vale a pena visitar. A entrada é grátis para idosos.
ResponderExcluirFor fun
ResponderExcluir